O palerma polaco e a palermice reinante no parlamento europeu

14-03-2017 17:19

No princípio de Março o eurodeputado polaco Janusz Korwin-Mikke fez declarações tontas e paleolíticas no Parlamento Europeu. Disse a criatura que as mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes.

Janusz Korwin-Mikke é, obviamente, um palerma que devia ter sido tratado com a indiferença que geralmente se reserva aos palermas e pobres de espírito. Mas não. Provocou ondas de indignação e houve mesmo um eurodeputado italiano, um tal Gianni Pittella, que pediu que Korwin-Mikke fosse castigado pelas suas palavras. Pittella pediu "uma sanção exemplar" contra as "vergonhosas declarações de Korwin-Mikke, que vão contra os princípios de igualdade de género" do Parlamento Europeu.

Resumindo: Gianni Pitella é ainda mais palerma do que o eurodeputado polaco, só que é um palerma politicamente correcto e um censor da liberdade de expressão dos outros, ou seja, é exactamente o tipo de palerma que a Europa adora. E adora a tal ponto que, como já se previa, lhe fez inteiramente a vontade e trucidou o energúmeno de Varsóvia. Acabo de ler que, após inquérito e votação, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, decidiu aplicar ao deputado polaco sanções proporcionais "à gravidade" das suas declarações, e por isso vai ser suspenso durante 10 dias e perder as ajudas de custo diárias durante um mês.

Parece que há muitas pessoas que rejubilam com esta decisão. Posso perceber o sentimento de satisfação por sentir que o estúpido que menorizou as mulheres não se ficou a rir mas acho que não estão a ver bem. Há aqui razões para ficar preocupado porque isto é um óbvio atentado à liberdade de expressão vindo de um local onde essa liberdade de expressão devia ser sagrada. Que parlamento é este que sanciona um deputado por ele emitir a sua opinião, ainda que essa opinião seja ante-diluviana? Que eurodeputadas são estas que ficam "ofendidas" por um troglodita dizer meia dúzia de parvoíces? Não são as senhoras eurodeputadas capazes de reduzir o polaco à óbvia insignificância do seu intelecto? Não seria preferível e mais adequado em vez de lhe aplicar um castigo mostrar-lhe como ele é burro e, pior, um burro arcaico? Num parlamento, que é o sítio onde os eleitos do povo podem exprimir os seus pontos de vista, as opiniões contestam-se, rebatem-se, não se castiga quem as emite, por mais estúpidas e cavernícolas que elas sejam - como, no caso vertente, obviamente são. E que presidente do parlamento é este que pune como se estivesse a castigar um menino travesso, a pôr-lhe pimenta na língua e a cortar-lhe a semanada? Estamos a falar de um parlamento ou de um jardim-escola? Visto do local onde me encontro parece ser, acima de tudo, a lamentável assembleia que resultou de uma cultura virada para a manutenção da "correcção" e dos dogmas da modernidade. Num sentido mais estrito, é o resultado de um parlamentarismo feito em punhos de renda e expurgado de tudo o que possa, ainda que vagamente, ofender. Estamos todos lembrados que, há uns anos, o ministro Pinho fez um gesto pouco simpático - insultuoso mesmo -, em direcção a um deputado do PCP. No actual parlamento europeu já o teriam esfolado vivo - João Pedro Marques (não publicado antes).