Aula prática de escravatura (em árabe)
Aqui há uns anos, 8 princesas de uma das mais poderosas famílias dos Emirados Árabes Unidos
hospedaram-se num hotel de luxo em Bruxelas. Ocuparam um andar inteiro pois traziam consigo alguma da sua prole, vários guardas e 23 mulheres, a maioria das quais africanas, para as servirem durante o longo tempo em que ali iriam permanecer. Um dia uma dessas serviçais arranjou forma de contar o seu quotidiano à polícia belga. A subsequente investigação revelou que as ditas 23 mulheres eram obrigadas a trabalhar em condições próximas da escravidão. As princesas árabes tinham-lhes apreendido os passaportes e quase não as remuneravam pelo seu trabalho, que podia ser exigido a qualquer hora do dia ou da noite; forçavam algumas delas a dormir no chão, à porta dos seus quartos, para que as atendessem prontamente, enquanto as
restantes ficavam ao monte, numa única divisão; as 23 mulheres eram, por vezes, espancadas, comiam apenas o pouco que sobrava das refeições das suas senhoras e estavam proibidas de abandonar aquele piso do hotel, ou seja, estavam aprisionadas.
A justiça belga tardou a julgar o caso mas há poucos dias chegou, por fim, a um veredicto: as princesas foram consideradas culpadas de tráfico de seres humanos e de terem sujeitado
pessoas a um tratamento degradante. O tribunal considerou-as moralmente responsáveis por uma forma de esclavagismo moderno, e condenou cada uma delas a uma multa pecuniária e a 15 meses de prisão com pena suspensa, para além de indemnizações às vítimas.
trata de condenar acções passadas (ou presentes) dos povos ocidentais - João Pedro Marques (publicado pela 1ª vez no Diário de Notícias, 10 de Julho de 2017).